7 de abril de 2013

Back down track

Regresso novamente ao que de mais fundo e mais sombrio carrego: eu mesmo!

17 de fevereiro de 2009

Porquê tanta angústia?


Os dias foram e vieram. Com eles as noites, os sóis, os ventos, os murmúrios, os silêncios. Foi-se o tempo que entreteve a angústia até que regressasse.

Os dias vão e vêm e com eles as noites, os sorrisos, os gritos, as claridades, os gestos, os toques. Regressa a angústia que traz o passado e não deixa o presente passar depressa.

Os dias que ainda não vieram trarão no ventre a angústia do presente que foi logo passado porque a angústia o não deixou ser o que era.

Há cheiros que me trazem memórias que nunca vivi. O cheiro do cabedal, o cheiro do café acabado de fazer, o cheiro de um fósforo acabado de acender, o cheiro da lenha a arder...

Gosto dos novos sons que me obrigam a dançar sozinho.

Gosto do brilho com que os olhos devoram novas descobertas e do tremor com que os dedos exploram a medo.

Gosto da ânsia de construir e de magoar as mãos enquanto o faço: mostra-me onde estavam os limites da criação.

Relativizo sempre tudo na esperança que essa cautela me poupe ao sofrimento. Puro engano!

14 de abril de 2008

Tanta coisa


Passaram muitas noites e muitos dias desde a última vez. Passou muita gente, muitos dias de sol e outros tantos de chuva. Passaram brisas frescas pela face. Passaram demasiadas lágrimas. Passaram pingos de chuva atirados com força pelo vento e dedos que deixaram carícias. Passaram bons pensamentos e momentos em que o tempo parou. Passaram segredos e frases que mais ninguém ouvia. Passaram palavras alegres e outras azedas. Passaram muitos grãos de areia por entre os dedos. Passaram muitos dias, tantos dias e, no entanto, parece que foi ontem.
Passou tanta coisa de que já não me lembro. Guardo apenas uma ideia do que foi e deve ter sido bom. Mas já não me lembro. Não é que tenha esquecido, apenas não me lembro. Não me lembro de alguma vez ter lembrado. Esqueci-me de reter e agora não me lembro. Ou será que já esqueci?

5 de outubro de 2007

Amor

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(...)
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.
— O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.
Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.
— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.
Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.

de Clarice Lispector

28 de setembro de 2007

Chico Buarque - Valsinha

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Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhanca toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

6 de setembro de 2007

Não devia haver dias assim

Não devíamos abrir o peito e despejá-lo para o papel para que isso nos divida. Não nos devíamos olhar nos olhos para perceber que está tudo fora do sítio. Não nos devíamos abraçar para evitar que nos separemos irremediavelmente. Não nos devíamos beijar como se nos despedíssemos a meio da noite.
Há dias assim, em que tudo corre ao contrário sem que possamos perceber porquê e sem que consigamos evitar pensar que é aqui que tudo acaba. Mas não é, ainda há muito para penar. Haverá ainda muitos maus momentos a mostrar que é pelos bons que cá andamos.
After all, bumps are what you climb on...

4 de setembro de 2007

A vida aos ésses

És o sal, o sol e o sul da minha vida. Só não és também a lua porque começa com L.

30 de agosto de 2007

Gotan Project - Diferente

En el mundo habrá un lugar
para cada despertar
un jardín de pan y de poesía

Porque puestos a soñar
fácil es imaginar
esta humanidad en harmonía

Vibra mi mente al pensar
en la posibilidad
de encontrar un rumbo diferente

Para abrir de par en par
los cuadernos del amor
del gauchaje y de toda la gente

Qué bueno che, qué lindo es
reírnos como hermanos
Porqué esperar para cambiar
de murga y de compás.

29 de agosto de 2007

Até quando?

Se ficasse por aqui já teria valido a pena. Pelo brilho dos olhos, pelos braços estendidos, pelas lágrimas e pelos sorrisos, pelas promessas murmuradas já teria valido a pena. Pelos "adeus" dos reencontros que ficaram presos nas gargantas, sufocados pelos abraços, já teria valido a pena. Pelas pernas entrelaçadas, pelo adormecer tranquilo, pelo acordar tacteado e ansioso, por ter-te sentada frente a mim já teria valido a pena. Pelo pôr-do-sol repetido até à perfeição, pelo luar insuportável na ausência, pelo cheiro e pelo toque da tua pele já teria valido a pena. Pelas dunas, pelo mar, pela torre, pelo rio, pelos campos, estradas e jardins descobertos já teria valido a pena. Pela música que nos escolheu, pelo pote de mel e pelo mel que enche o pote. Por tudo isso que teria já valido a pena, vale a pena querer o resto da vida.

2 de junho de 2007

Duas metades

Descobrimos a metade que nos faltava. Não conseguimos aguentar se não a podemos ter por perto e não vamos descansar enquanto não a podermos ter só para nós.

Que vida sem o resto?

A única coisa que posso levar é a lembrança de ti, do que foste comigo,
Obrigada por teres saltado o muro. Não estragues a relva, dá de vez em quando alguma água às flores e aproveita a sombra das árvores. Gosto de te ter por cá.
Estás a ganhar raízes num lugar que passará a ser sempre teu, mesmo depois de te teres ido embora. É a tua marca que fica, os contornos que a marca cá deixa vão ser desenhados por ti.
Ao abrirmos esta porta peço-te apenas que de cada vez que me digas “adeus”, o faças lembrando que virá um dia que é mesmo o da despedida.
Para que possamos até lá, sem pressa nem mágoa, plantar as nossas flores num só jardim sem muros, onde voltaremos sempre que quisermos.
Aceitaremos a despedida com o que isso implica de partida sem regresso marcado.
É nesta despedida que se define a exacta medida da distância que nos irá separar. Não faremos promessas gastas de que não há despedida, de que só há um “Até já”. Não tentaremos iludir o sofrimento que nos causará a lembrança de um tempo distante, que é o de hoje.
A lápide diria: Até já. Voltaremos a encontrar-nos no brilho das estrelas. Até lá, guardo a tua fotografia numa linda caixa de tartaruga.

29 de maio de 2007

De ti para mim

Pára! Sabes onde estás? Que chão pisas? Porque o pisas? Como chegaste até aqui?
Olha à tua volta! Reconheces o que vês? Era isto que vias lá de trás? É isto que vês lá para a frente?
Fecha os olhos e repete todas as respostas! Consegues mesmo ouvir-te? Consegues compreender as respostas que deste? Consegues convencer-te do que estás a dizer?
Abre os olhos de novo! Qual é então o caminho? Que direcção escolhes afinal?
Espera! Podemos seguir juntos?

24 de maio de 2007

Volcano

don't hold yourself like that you'll hurt your knees
i kissed your mouth and back that's all i need
don't build your world around volcanoes melt you down
what i am to you is not real
what i am to you you do not need
what i am to you is not what you mean to me
you give me miles and miles of mountains
and i'll ask for the sea
don't throw yourself like that in front of me
i kissed your mouth your back is that all you need?
don't drag my love around volcanoes melt me down
what i am to you is not real
what i am to you you do not need
what i am to you is not what you mean to me
you give me miles and miles of mountains
and i'll ask for the sea
what i give to you is just what i'm going through
this is nothing new no no just another phase of finding
what i really need is what makes me bleed
and like a new disease she's still too young to treat
volcanoes melt me down
she's still too young
i kissed your mouth
you do not need me

Ontem estive assim

Acordei a dormir e passei o dia a dormir acordado. Ri quando queria chorar, comi e bebi sem fome nem sede. Baixei os olhos sempre que me apeteceu olhar para cima e sorri às nuvens quando precisei da luz do sol.
Quando precisava de me sentar e ficar sozinho levantei-me da cadeira e procurei gente com quem falar. Quis gritar e limitei-me a sussurrar.
Quis imaginar-te a meu lado e só me lembrei do passado. Quis dizer que te amo e cerrei os dentes. Queria-te perto e despedi-me de ti.
Falei quando queria silêncio e chorei quando o silêncio finalmente chegou.

11 de maio de 2007

Sunshine at the sunset

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away

The other night dear, as I lay sleeping
I dreamed I held you in my arms
But when I awoke, dear, I was mistaken
So I hung my head and I cried.

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away

I'll always love you and make you happy,
If you will only say the same.
But if you leave me and love another,
You'll regret it all some day:

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away

You told me once, dear, you really loved me
And no one else could come between.
But not you've left me and love another;
You have shattered all of my dreams:

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away

In all my dreams, dear, you seem to leave me
When I awake my poor heart pains.
So when you come back and make me happy
I'll forgive you dear, I'll take all the blame.

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away

2 de maio de 2007

A tua foto

Se a minha vida fosse um álbum de fotografias tu serias uma daquelas fotos pequeninas. Haveria fotos de todos os tamanhos, com muita gente, com muitas cores, mas tu serias a mais pequenina. Só a tua cara num pequeno quadrado, com um fundo claro, sorrindo tranquilamente. Aparecerias numa das primeiras páginas e repetir-te-ias quantas vezes quisesses. No canto, como os números, a lembrar-me que as páginas se foram virando e que há ainda outras por virar.

27 de abril de 2007

A despropósito de cinema...

O filme "Quatro quartos" é uma das melhores comédias de sempre. A história do 3º quarto, realizada por Robert Rodriguez, é a melhor de todas. Fica aqui um cheirinho!

23 de abril de 2007

Palmiers e tartarugas

Tenho que começar a escrita neste blog com um primeiro post engraçado, que divirta quem o lê e que tenha alguma ligação com aquela introdução do título. Já sei: vou criar uma fábula com palmiers e tartarugas.
Vai haver uma tartaruga a despir a carapaça. E dois palmiers, um com capa e outro simples, a conversarem um com o outro. E no fim acontece qualquer coisa suficientemente ridícula para as pessoas se rirem mas que dê para encontrar uma moral da história das tartarugas e dos palmiers.
É pá, mas uma fábula não é uma coisa muito fácil de fazer. E se calhar até não tinha assim muita graça. As pessoas ainda se fartavam de ler uma coisa tão grande e nunca mais liam nada do que aqui se vai escrever. E ainda por cima acabava a fazer figura de palmier com capa.
Não, isto tem mesmo que ser uma coisa fácil de ler. E simples, como o palmier sem capa.